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As torres também têm sido usadas como prisões, de maneira às vezes muito consciente e, em outras épocas, de modos mais sutis. Hoje, por exemplo, em nossas cidades, milhões de seres humanos estão quase literalmente aprisionados em concreto. É chocante pensar nos inúmeros funcionários de escritório cujos pés nunca tocam a grama verde e que não têm contato com a terra quente e úmida. Essa gente desce todas as manhãs dos seus prédios de apartamentos, que semelham torres, para uma garagem subterrânea da qual se dirigem para outras garagens em porões, subindo pelo elevador para escritórios altíssimos onde passam os dias. À noite, inverte-se o padrão e, como ratos aprisionados num labirinto de concreto, cada qual encontra o seu caminho, no escuro, de volta ao cubículo em que mora.
Imagine-se o efeito dessa rotina diária sobre um organismo vivo. Pois quem quer que viva exclusivamente num plano acima da terra perde contato com ela, com seus semelhantes e, inevitavelmente, com o seu próprio aspecto instintivo, terreno. Isola-se. A visão panorâmica, estatística e intelectual, tende a obliterar os quentes contatos pessoais da vida cotidiana. Não admira que tais habitantes solitários da torre se matriculem, às centenas, em classes de sensibilidade, encontros de grupos e reuniões de hippies, onde, mediante pagamento, lhes é permitido caminhar descalços sobre a relva e recebem lições sobre a perdida arte de se tocarem e comunicarem uns com os outros.
Psicologicamente falando, muitos de nós vivemos "no ar", aprisionados em torres ideológicas feitas por nós mesmos; pois a torre pode simbolizar qualquer construção mental, política, filosófica, teológica ou psicológica, que nós, seres humanos, construímos, tijolo por tijolo, com palavras e idéias. Como os seus equivalentes físicos, as torres são úteis para nos proteger contra o caos, para uma retirada ocasional, e como situação favorável para determinar nossa posição em relação à visão mais ampla. São úteis enquanto damos espaço a uma remodelaçãozinha de tempos a tempos e mantemos as portas abertas de modo que possamos entrar e sair à vontade. Mas quando construímos um sistema rígido de uma espécie qualquer e o coroamos rei, tornamo-nos seus prisioneiros. Já não temos a liberdade de mover-nos e mudar com o momento, tocar a terra vital e sermos tocados pelas suas estações.
No entender de Jung, o raio sobre a Torre significa "mudança súbita, inesperada e irresistível da condição psíquica".
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