Minha laranjeira verde.



"Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus"


Era uma daquelas noites mágicas, onde o vento uivava como um lobo faminto, as árvores balancavam e a lua iluminava tudo o que estivesse sobre a Terra. Ele calçou seus velhos sapatos e foi para a floresta. Naquele dia, havia trabalhado tranquilamente, sentindo uma calma ímpar no trabalho. Gostava de cavalos e por diversas vezes olhava-os passarem correndo pelo caminho de terra que estava á frente de seus olhos. Leu livros importantes, escreveu para o infinito e marcou mais uma vez um passo na areia da vida. Ao chegar da noite, se preparou para reencontrar os velhos magos de sempre. Dia de ritual, dia de reencontros, dia de reafrontas. Dia de verdades.
Chegando lá, deu de cara com o velho Porteiro, sempre com seu sorriso cativante e sua amizade ímpar. Passara momentos com aquele Porteiro que jamais serão esquecidos; dividiu com ele momentos naquele espaço que poucos pdoem imaginar.. momentos de riso, gargalhadas... só não momentos mágicos, pois o Porteiro se mantinha fiel ás suas convicções de "ser apenas um porteiro".
Ao passar pelo portal, identificou novas árvores, novos adornos, mas a energia sempre essencial daquele lugar. Chegando no centro do ritual, os caldeirões estavam lá, prontos para sua finalidade e esperando os magos que estavam em seu momento de canalização em outro local, perto dali. Ouvia-se as vozes, os chamados pela Deusa e o toque do velho tambor, tão conhecido por ele.Chegando perto da gruta onde estavam, avistou os magos tão presentes em sua memória. O Mestre com o dedo em riste clamando à Deusa o amor compartilhado, os coveners cantando e dançando...foram saindo da gruta, e ele se colocou mais á frente, fora do círculo, para que a energia adentrasse de forma natural.

O mestre foi o primeiro a sair, tocando seu tambor e cantando para a Deusa. ao o vê-lo, parou de tocar, olhou em seus olhos e disse "por você, merece parar" e lhe deu um abraço como nunca havia lhe dado.


Naquele momento, a lua aparece e sorriu.


Todos os outros sacerdotes saíram e, em uma espécie de fila, cumprimentaram o velho Mago que voltara depois de quase quatro estações. Os sorrisos ,abraços, beijos.. tudo isso fez o coração do mago crescer, ser feliz, agradecer.Após algum tempo houve uma pausa natural para que os coveners presentes pudessem se preparar para a queima de pedidos e a energização da noite. Nesse intervalo, o mago pôde, gentilmente, dar ao mestre dois presentes: uma lembrança simples, porém de coração, que o mestre se lembrará do mago sempre que olhar para ela; a segunda, suas mãos. Sim, o Mago concentrava seus dons nas mãos.

O mestre então se lembrou de diversas ocasiões onde as mãos deles tocaram as peles dos animais consagrados a se transformarem em instrumentos e geraram mutações onde quaisquer ser vivo estivesse seria tocado. As salamandras, duendes, fadas, anjos... tudo ali se mutava ao toque dos tambores.

Ao lembrar disso, o Mago lhe prometeu: em nosso ano-novo, estarei aqui.


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Fez-se o ritual, a queima dos desejos, a energização... Eis que o mestre chama o Mago, para sorriso geral de todos que ali o conheciam. O Mago recebeu o tambor de um dos coveners (já iniciado na arte do tambor), pediu licença ao mesmo e sentou sobre ele. Inicou um toque tímido, para reconhecer as energias, pedir licença aos guardiões e sentir a vibração aos poucos, suave, brisa leve, aumentando, girando, cantando, suando.

Acompanhou os cânticos daqueles magos como sempre o fizera. Em certo momento, percebeu que em sua linha reta estava uma pessoa de extremo apreço. Eles haviam passado por momentos mágicos, únicos, simples... porém a vida sempre ensina, sempre tenta derrubar, sempre mostra caminhos tortos, trilhas difíceis e estes caminhos separaram a vida dos dois. As inconsequências do Mago também cotnribuiram para a distância impregnada, a vontade de mudança e a sensação de falta de ar causada nos dois também.Mas ali, no centro, na magia, dentro da energia que ligou a vida dos dois para sempre, tudo isso fica para trás. O Mago percebeu que dois elementos o separavam dessa pessoa : água e terra. Ele em frente á Água, ela, em frente á Terra.




Água: pureza, fluidez, sentimento
Terra: firmeza, segurança, fertilidade.




O ritual chegou a seu fim com as energias plenas e os sentimentos nos olhares. O Mago saiu daquele lugar e voltou á sua floresta. Lembrou-se de que havia um encontro de pessoas para comemorar um dia especial de uma covener muito estimada por ele, e foi até o local olhando a Lua e agradecendo as sensações e os possíveis estigmas derrubados ali dentro.
Andou pela floresta, encontrou sua velha amiga, falaram sobre flores, criancinhas, cachorros e então ele pôde retornar ao seu velho casebre. Ao adentrar em seu humilde domicílio, percebeu em seu olhar duas laranejeiras prateadas, brilhando mais que a Lua que o encantara pela noite toda. Percebeu que o Sol brilhava dentro dele e viu a Lua lá fora, raiando, cantando, encantando...


Foi para fora e acendeu seu cigarro da saudade, olhou sua laranjeira verde, prateada pela Lua dessa noite e pelo sereno da madrugada.


E estampou em sua face um sorriso bobo, parecido com soluço, mesmo com todo o caos seguindo em frente, com toda calma do mundo.







"tudo o que já fiz foi por vaidade"

3 comentários:

Janaina Caetano disse...

E ela, como bruxa que é, sabe que o universo é perfeito e aquele tambor não pararia exatamente em sua frente ao acaso, mesmo tendo fugido disso o tempo todo, o universo tá ali trabalhando sem parar ... e se aproveitou daquele momento, puxou o mago, lançou-o dentro do caldeirão central, que consumia no fogo que transforma e determinou que ali naquele fogo ardendo o mago ficasse, para ela ser realmente livre, como ele assim quis ao final de uma história única e mágica, e repetiu isso algumas vezes. Nem precisaria repetir, talvez a repetição fosse pra ela mesma, pq assim é melhor, pq assim que deveria ser, por mais que o mago fosse contra tudo aquilo que havia escrito na magia. Na mesma magia que os uniu e fatalmente unirá sem tempo definido - eu diria o infinito, na mesma magia que proporcionou ao mago, à bruxa, ao mestre, aos covenners, à estrela, a quem for que estivesse ali, um dia especial, na mesma magia que o mago negou por acreditar que o que levava dentro de si era o mais importante. Corajoso ao enfrentar sua fé e por isso tens meu respeito - como Sthephanie; fraco ao omitir a verdade e por isso perdeu o meu respeito - como Janaina.
Ao mago digo que atente que nesse dia em especial os elementos base de cada um estavam invertidos, naturalmente como mago que é ele sabe o que um dia isso pode significar e sabe que a inversão é para ambos e também para ambos aprenderem algo: um o valor constante do que verdadeiramente se tem ao outro a independência que ultrapassa o coração.
Sem lembrar que o mago retornaria naquele dia, a bruxa durante a preparação e invocação se distraiu um momento pois ouviu um toque diferente do que estava acostumada nos últimos rituais, ela mesmo sem saber, tinha certeza de que de alguma forma o mago estava ali, abriu os olhos mas ao lado do tambor estava quem ela se acostumou a ouvir. A bruxa esqueceu que em certos momentos o coração é mais inteligente que os olhos.

Raquel disse...

Depois de tanto pesar..nada como se sentir acolhido!
;)

Raquel Zucchi disse...

Vaidade, seu nome é humano! ;)

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