20 anos depois



Quando eu era apenas um garoto de uns 14 anos, lembro que sintonizei a Transamérica (100,1 FM) e ouvi uns caras cantando uma canção bonitinha, leve, com um apelo romântico mas muito sutil.
Esses caras eram o Ira!
Aquela música ecoou durante alguns dias em meus ouvidos. Naquela época eu estava redescobrindo os primeiros discos da Legião Urbana que meu irmão colecionara (aos 12, a Legião lançava seu quarto discos, "As Quatro Estações"). Digo "redescobrindo" pois quando eu era bem mais novo meu irmão já tinha os discos anteriores, mas por um tempo ficamos sem vitrola ,e os discos ficaram restritos á casa da minha tia.
Certo dia estava eu sentado na sala ouvindo "Angra dos Reis" (do disco "Que País é Este") e o telefone tocou. Era uma menina da escola que, mais tarde, veio a ser meu primeiro amor. Estava um dia calmo, mas sem graça ,sabe? Conversamos coisas sobre a escola, trabalhos, matérias etc...Quando ela desligou, lembrei-me daquela canção que eu tinha ouvido na 100,1:

"Você me ligou naquela tarde vazia
E me valeu o dia"

Naquele momento, mal eu sabia mas o vírus Ira! me contaminou. Comecei a fuçar as coisas dessa banda que eu desconhecia, e achei coisas que eu já havia ouvido, como riffs de guitarra de "Dias de Luta" ou mesmo o famigerado "Feliz aniversário, envelheço na cidade"... todas eram do Ira! (!) e eu mal sabia.
Fui tentando conhecer coisas deles... comprei um K7 do "Clandestino" por conta da música "Tarde Vazia" e me deparei com uma banda diferente de tudo o que eu ouvi nos anos 80: n]ao tinha os teclados do RPM, os vocais femininos e a blasfêmia da Blitz, muito menos músicas pop como o Kid Abelha, nem era uma orquestra como os titãs e não tinham uma forte tendência punk/romântica/rebelde como a Legião... ali conheci os mods, conheci a cena paulista underground, conheci o que era um vocal raivoso e guitarras insandecidas e nem era o Sepultura.

Segui minha vidinha de garoto rebelde (naquela época, rebelde era sinônimo de podreira, não essa bichice de hoje em dia) ouvindo meusi Alice In Chains, Nirvana, Pearl Jam, Metallica, Soundgarden ,etc... mas o sangue do RockBR corria em minhas veias.
Fui ao primeiro show do Ira! em 94, na Broadway (danceteria da Zona Oeste), que foi quase no finalzinho da nano-turnê do "Música calma para pessoas nervosas"(1993). Eu acabara de também ver meu último show da Legião Urbana, no ginásio do Ibirapuera, lançamento do "Descobrimento do Brasil" (1994). Com relação ás bandas nacionais dos anos 80 ,eu já estava acostumado com a onda pop e as calmarias (isso pq eu não conhecia os discos mais raivosos dos Titãs!), então assistir a um show do Ira! e toda aquela força foi algo que enervou minha mente, pulsou o coração e gritou com todas as forças:

IRA!!!!!!!!!!!

tá dominado, tá tudo dominado! hehehe

Segui acompanhando o Ira! sutilmente. Mas o grande reencontro com esses caras foi em um dos meus palcos preferidos: Centro Cultural São Paulo. Você sabe o que é assistir o mesmo show sexta, sábado e domingo (duas sessões)? eu sei! Foi a turnê do disco "Isso é amor" (1999) ,em meados de Agosto de 99. Porra, que energia! a banda acabara de passar por uma fase muito ruim. O disco "Música calma..." foi apenas um tapa-buraco com a gravadora, dai em 96 lançaram o "7" que muito bem recebido, mas ainda contando com problemas de reabilitação do Nasi em relação ás drogas. Em 1998 lançaram o "Você não sabe quem eu sou", onde o Scandurra iniciou o que ele havia cantado há quase 10 anos atrás:

"Outros sons, outras batidas, outras pulsações (...)
Já estou farto do rock n´roll"


Esse flerte com a música eletrônica não foi muito bem recebido pelos fãs mais íntegros (tem aquela porra do Trair o Movimento, lembra???) mas ganhou prêmios e tudo mais. A banda estava de volta.. e com tudo.
Voltando ao CCSP, conheci lá pessoas que acompanharam uma década inteira juntos, por causa desses 4 rapazes de São Paulo. O pessoal do Fã Clube acolheu, apresentou, indicou, cantoucantouecantou junto muita cosia que eu desconhecia. Inclusive a própria banda!
Lecka, Denison, Guto, Just, Kaverna, Robson (B Master), Tati, Yagami, Gohan, Cris, Renatinha, Cris forcioni, Sussu e Pati Gnipper, Nana (Curitiba), Sandra (Londrina), Linda, Michel, Juliana, Carolinhas, Lu Negrette, Célio, Eduardo, Ida, Caio, Flávia Lexotan (e o irmão dela que eu sempre esqueço o nome!!!) e mais uma caralhada de gente que apareceu...que tempo bom, que realmente
não volta NUNCA MAIS!!!!

Bom, cheguei onde queria!
Ontem fui assistir á gravação do DVD do Edgard Scandurra, o "Amigos Invisíveis, 20 anos..."
Em 1989 o Edgard lançou seu primeiro disco solo, e, já mostrando sua virtuose musical, tocou TODOS os instrumentos do disco (deixando apenas o teclado pra sua ex-mulher, Taciana Barros, em "Abraços e Brigas"). Esse disco tem músicas lindas, arranjos perfeitos, letras densas e prima pelo sentimento, tanto de amor como de raiva, de alegria de viver. Chegando ontem no Teatro da Fecap já encontrei a Cris ,amiga de váááários shows. conversamos um pouco e ela entrou. Fiquei ali fora fumando um dos cigarros da saudade e entrei no teatro. Lá encontrei a Ida, o Caio, o Denison com sua esposa, a Lecka (puta saudade, mulher!!!!) e familia dela, fora o Gaspa que há muito não via.
Começou o show.
Cara ,tinha esquecido como o Edgard eh o melhor guitarrista que eu já vi em atividade...Outra coisa que emocionou todos ali foi ver que a maior inspiração do Edgard, seu filho Daniel ,estava tocando baixo com ele.
No disco Amigos Invisíveis o Edgard compôs uma canção instrumental chamada "Benvindo Daniel". É só violão, mas é Edgard, ou seja: não é apenas um violão! E vc imagina que, 20 anos depois, o filho do cara tá ali tocando com ele? Emocionante...

Set list forte. Fernanda Takai e nossas "Tolices", cantar "Poder, sorriso, Fama" e perceber como essa música é profética, "O dia, a semana, o mês" que cita algo perfeito para a ocasião, tanto do Ira! como a minha:

"...O que me faz tão confusoé a falta de afeto
São amigos também tão confusos
que se tornam inimigos
Amigos que se tornam inimigos..."

Ouvir também "Você não sabe quem eu sou" dentro do meu atual contexto disse muito, e essa música merece, em breve, um post só pra ela. fora "Cavalos Selvagens" e "Não Matarás" que remetem ao tempo do disco "Meninos da Rua Paulo", e claro, as canções mais lindas do Amigos Invisíveis, como Abraços e Brigas, Culto de Amor, Benvindo Daniel, Minha Mente Ainda é a Mesma e Amor em BD.
Assisti a esse show diferentemente dos outros shows do Ira! que eu fui. Ok, esse não foi um show do Ira!, mas pelo fato de 90% das canções do Ira! serem do Edgard, pra mim eh Ira!=Edgard (sem desmerecer NENHUM ex-integrante, ok?)Passou um filme na minha cabeça... justamente algo parecido com o que relatei acima... uma saudade de algo bom, de uma leveza no ar, da busca incessante pela canção perfeita, pelo show mais vibrante, pela desmonstração de reconhecimento ao artista...

Ontem foi uma revisita aos velhos tempos.

Quem me abraçou, me protegeu
Me acalmou, me engrandeceu
Quem me despiu e me cobriu

O bom e velho Rock'n Roll!

Quem me abateu e me vendeu
Me conquistou, me seduziu
Me entorpeceu e encaretou
Me converteu em pecador
E quem morreu, ressuscitou
E quem partiu depois voltou
E quem mentiu, até blefou

O bom e velho Rock'n Roll!

1 comentários:

Lelo Morais disse...

Po... c sabe que eu também curto Ira... mas depois de toda essa história com "meu pai" gostei ainda mais... hehe... sabendo um pouco mais... da banda e da vida do pai...

Site Meter